De acordo com Heliana Hemetério, historiadora, articuladora da Rede Candaces Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras e ativista e conselheira da Junta Diretiva do Fundo Emergente da América Latina, pautas relacionadas às mulheres lésbicas, bissexuais e trans (LBT’s) têm ganhado visibilidade. Debates importantes para as mulheres heterossexuais também ganham espaço como os direitos sexuais e reprodutivos, maternidade, filhos, entre outros.
“Nunca falamos tanto de direito à saúde, do preconceito, da lesbofobia no trabalho e na família, de outras diversas questões familiares. Contudo, sem sombra de dúvida a grande demanda do momento e a grande voz que se levantou foi a da pauta de travestis e mulheres trans. Por conta da transfobia, da morte diária, da negação dessas mulheres à existência, da chegada delas à academia. Algumas já são doutoras, algumas mestras e elas estão ocupando outros espaços. Isso reforça a luta”, explicou Heliana, que também é enlace LGBTQI+ da Rede de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, filiada à Rede de Mulheres Negras.
Ela lembra que as políticas públicas avançaram, assim como o debate no Serviço Social. “É preciso entender que há dificuldades e barreiras para falarmos de sexualidade. A gente não fala de ser lésbica, de ser bissexual, de ser transexual, que dirá de ser heterossexual. As mulheres heterossexuais também não falam. Ser heterossexual, para uma mulher, é algo que vai muito além de ter relações sexuais com homens. Se não há o debate de sexualidade, você não discute direitos sexuais e reprodutivos, ou debate de maneira equivocada, principalmente no momento que passamos”, disse.
Serviço Social
O debate precisa ser ainda mais fortalecido no Serviço Social, segundo Heliana Hemetério, porque é preciso que as/os profissionais tenham conhecimento sobre preconceito, lesbofobia, bifobia, e transfobia. “Pessoas diferentes trazem demandas diferentes. No caso das lésbicas, por exemplo, na questão da concessão do Bolsa Família, geralmente não se reconhece um casal de lésbicas, não é uma política pública reconhecida. E ainda há o preconceito do olhar. No caso da saúde eu posso dar um exemplo concreto. Eu sofri um AVC, fui internada e quando a minha companheira chegou ao hospital tivemos problemas para que ela pudesse ser minha acompanhante, mesmo após conversa com a assistente social. E temos união estável. Tivemos que dar explicações e mais explicações e fomos firmes porque somos ativistas. E o que fazem com ostras mulheres lésbicas? Aquele monte de questionamentos não deveria acontecer. E esse não reconhecimento se repete em várias outras políticas como as de moradia, as direcionadas às mães, porque se pensa que uma mulher lésbica ou trans não pode ser mãe, entre tantas outras questões”.
Formação Profissional
Para inserir cada vez mais essas questões dentro do debate no Serviço Social, a ABEPSS definiu em 2014 que o currículo das graduações incluísse temáticas feministas. É o que explica Mirla Cisne, doutora em Serviço Social, professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), em Mossoró.
“Vale lembrar que essa aprovação se deu em uma votação unânime, com delegadas/os das mais variadas escolas de Serviço Social do Brasil, o que me leva a crer que nossa categoria já estava convencida da importância e da indispensabilidade de incorporar de forma mais estrutural os estudos feministas, antirracistas e da diversidade sexual na formação profissional. Assim, não tenho dúvida da importância dessa conquista”, ressaltou.
Mas Mirla lembra que muitas faculdades ainda não incorporaram essa orientação da ABEPSS, seja porque permanecem abordando essas temáticas em disciplinas apenas optativas, seja, até mesmo, pela ausência total de qualquer modalidade de disciplina com tais temáticas. Por isso, aponta a importância dos esforços contínuos da ABEPSS e do conjunto CFESS/CRESS, por meio de debates, campanhas, resoluções, manifestos, entre outros, se posicionando contra todas as expressões de violência patriarcal e racista que persistem no Brasil.
“Apesar desses esforços, precisamos incorporar a perspectiva feminista e antirracista em toda formação profissional. Disciplinas como as de fundamentos, de trabalho, questão social, formação brasileira, políticas sociais, família, etc., são impensáveis sem o entendimento de totalidade sobre as determinações da desigualdade social relacionadas com o heteropatriarcado e o racismo ao longo da formação brasileira. Não se trata, portanto, de entender tais questões de maneira isolada, como apenas opressões ou questões identitárias. Trata-se de entendê-las na dinâmica estrutural das relações sociais de exploração sobre o trabalho e seus desdobramentos sociais e econômicos”, explicou.
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