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Femenagem à professora Marilda Villela Iamamoto

16/05/25 às 13:36

“A memória é uma construção do futuro, mais que do passado”.

(Murilo Mendes apud Iamamoto, 2008, p.24)

Neste 15 de maio de 2025, Dia do/a Assistente Social, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, por iniciativa do mandato do Deputado Estadual Prof. Josemar, concedeu a Medalha Tiradentes à Assistente Social profa. Dra. Marilda Villela Iamamoto.

A cerimônia especial foi realizada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, no Auditório 11 às 18h, com a presença da representação das entidades da categoria profissional, profissionais contemporâneos/as, docentes, estudantes de graduação e pós-graduação, prestando homenagem em vida à profissional brasileira que tem sido referência para as gerações profissionais de assistentes sociais no Brasil e demais países da América Latina.

Na semana seguinte, no  dia 19 de maio, a Câmara Municipal de Vereadores da cidade de Juiz de Fora (MG), às 19h30, por iniciativa do mandato da Vereadora Letícia Delgado, em ato solene, concederá o Título de Cidadã Benemérita à profa. Marilda Villela Iamamoto e fará Moção de Aplauso às e aos Assistentes Sociais de Juiz de Fora.

A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS também presta sua homenagem e reconhecimento à querida profa. Marilda neste 15 de maio, fazendo ecoar seu grito de vida, liberdade e resistência!

Sendo a mais alta honraria concedida pelo Parlamento Fluminense, a Medalha Tiradentes é destinada a reconhecer personalidades e instituições que prestaram relevantes serviços à sociedade e ao estado do Rio de Janeiro. A ABEPSS e o Serviço Social brasileiro reafirmam o protagonismo desta Assistente Social que marcou sua história pelo investimento no trabalho coletivo na luta pela democracia e emancipação humana.

Na comemoração dos 50 anos de criação da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF onde fez sua graduação, Marilda sintetiza sua trajetória:

Nessa casa me formei, dei os primeiros passos no universo acadêmico, na aproximação ao Serviço Social, às Ciências Humanas e Sociais e no conhecimento da história recente deste País. Mas aqui também descobri que o conhecimento tem consequências sociais e políticas e que a formação do intelectual é também a formação de um sujeito social comprometido com os destinos de nosso país e de sua história. Esse aprendizado se faz também como estudante, pois o movimento estudantil universitário é uma escola de vida que marca profundamente nossos horizontes. Aqui dei os primeiros passos no aprendizado da luta política e descobri que ela é sempre possível, até nos momentos mais duros e repressivos da ditadura militar e do arbítrio. E que a força repressiva não é capaz de erradicar os projetos coletivos que apostam na Liberdade, na Justiça e na Igualdade no horizonte da superação dos fundamentos da sociedade de classes e das desigualdades por ela socialmente produzidas. (Iamamoto, 2008, p. 25).

Com este espírito conduziu sua vida na formação e no trabalho profissional. Ingressando em 1967 na Faculdade de Serviço Social de Juiz de Fora – MG, militou no Diretório Central de Estudantes e representou o curso na União Nacional de Estudantes – UNE, neste período na clandestinidade.

Por meio da Juventude Estudantil Católica, Juventude Universitária Católica, participou ativamente da política estudantil aproximando-se da Ação Popular, posteriormente Ação Popular Marxista Leninista. Concluiu o curso em 1971 pesquisando em seu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC a “Emergência e formação de líderes no trabalho comunitário”. Com este trabalho, foi premiada pela organização alemã Konrad Adenauer com bolsa de estudo e uma viagem internacional para o Equador a fim de participar, em 1971, do Seminário Latinomericano organizado pela ALAETS.

Aos 21 anos de idade, recém formada, foi para Belo Horizonte e trabalhou no Centro de Reabilitação no então Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, ao mesmo tempo ingressando como docente na Universidade Católica de Minas Gerais, hoje PUC-MG. Nesta universidade, foi coordenadora dos trabalhos nos setores urbano e habitacional, protagonizando, com demais docentes e discentes, o histórico Método de BH, participando da comissão de reestruturação do Currículo da Escola de Serviço Social até 1974.

Nestes anos de chumbo Marilda sofreu a violência do Estado brasileiro. Em Belo Horizonte foi sequestrada e presa no dia 2 de dezembro de 1971, ficando no DOI-CODI até 4 de fevereiro de 1972. Segundo seu depoimento ao CFESS (2017), nos dois meses e dois dias em que ficou presa, sofreu tortura física e psicológica. Foi demitida do INPS por “ausência no trabalho” por mais de 15 dias. Marilda foi julgada e condenada a 6 meses de prisão, cumprindo sua pena até 13 julho de 1973 no Instituto João Emílio em Juiz e Fora pois na época não havia prisão feminina.

Em 1976, na Universidade de São Paulo – USP, iniciou o Mestrado em Sociologia Rural. Dedicando-se aos estudos da obra marxiana e em 1978, foi contratada como pesquisadora do Centro Latinoamericano de Trabalho Social – CELATS. Há 45 anos Juntamente com a equipe de Assistentes Sociais, colocou o Serviço Social como objeto de estudo no contexto da política de pesquisa implementa pela ALAETS/CELATS vindo a publicar em 1982, juntamente com Raul de Carvalho, pela Cortez Editora, o clássico livro “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação teórico-metodológica”, atualmente em sua 41ª edição.

Organicamente vinculada às entidades da categoria, investindo no trabalho intelectual na formação de novas gerações profissionais em várias universidades no Brasil e demais países Latinoamericanos, entre 1997 e 2001 Marilda cursou o doutorado em Ciências Sociais na PUC-SP  defendendo a tese “Trabalho e Indivíduo social: um estudo sobre a condição operária na agroindústria açucareira paulista”. Particularmente com esta obra publicada pela Cortez Editora, sua contribuição na produção de conhecimento extrapolou a área de Serviço Social, incidindo diretamente nas Ciências Humanas e Sociais, fortalecendo as lutas das/os trabalhadoras/es rurais.

Além de sua atuação docente, particularmente na PUC-SP, UFRJ e UERJ, com inúmeros orientandos/as, a ABEPSS destaca o fundamental e estratégico trabalho como consultora do processo de Revisão Curricular, dos cursos de graduação em Serviço Social no país, encaminhado pela entidade no biênio 1993-1995, subsidiando o debate e participando do processo de aprovação das Diretrizes Curriculares aprovadas na Assembleia Geral em 1996. Entre 1997 e 1999 representando a área na Comissão de Especialistas junto ao Ministério da Educação fazendo a interlocução na defesa do projeto ético-político profissional.

Sua contribuição histórica como conferencista em praticamente todos os Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais – CBAS e Encontros Nacionais de Pesquisadores em Serviço Social – ENPESS, se ampliou para fora do Brasil. Atuando como protagonista do Movimento de Reconceituação do Serviço Social, desde a década de 1960, Marilda tem participado dos Seminários Latinoamericanos também como conferencista. O enraizamento de sua contribuição, sempre coletiva, ganhou o mundo ao ser a voz da América Latina nos Congressos Mundiais de Serviço Social realizados em Melbourne – Austrália (2014) e na Cidade do Panamá – Panamá (2024).

O reconhecimento internacional pelo seu trabalho ganhou notoriedade ao ser homenageada pela International Association of Schools of Social Work com a premiação Katherine Kendall, na modalidade: Environmental and Community Sustainability: Human Solutions in Evolving Societies, em 2018.

Marilda ficou até 2013 sem falar da tortura sofrida e de seu envolvimento com os agentes da repressão. Em seu depoimento ao CFESS no Projeto Serviço Social: Memória e Resistência contra a ditadura, Marilda reafirma que

Certamente as marcas e sofrimentos que ficaram na vida de muitos não podem ser eliminadas ou ressarcidas, elas desafiam o tempo, atualizam-se permanentemente enraizadas na história de vida e nos corações de muitas famílias brasileiras. Entretanto, o mais importante é que as denúncias dos atos violentos e arbitrários do passado iluminem o presente, seus desdobramentos futuros na defesa e aprofundamento do regime e nos valores democráticos e, que o interesse das grandes maiorias se constitua de fato no desafio permanente da construção de uma nova nação brasileira, sob os princípios éticos da grande política. (CFESS, 2017, p. 87).

Entrou na justiça para reparar seus direitos violados e, apenas em 25 de outubro de 2006, foi anistiada. Depois de mais de 40 anos, o Supremo Tribunal Federal votou o parecer favorável à sua reintegração como assistente social no atual INSS, tendo seu direito reparado.

Mobilizando um coletivo de jovens e experientes pesquisadores, juntamente coma profa. Cláudia Mônica dos Santos (UFJF), a profa. Marilda coordenou uma pesquisa  em  rede  sobre  o  Movimento  de  Reconceituação  do  Serviço  Social  na  América Latina (1965-1975), reunindo 21 universidades latinoamericanas  e  europeias  entre  2016-2021. O resultado da pesquisa evidencia que “foi na resistência coletiva aos períodos mais duros de repressão ditatorial que emergiram experiências críticas  inovadoras  no  Serviço  Social,  contestando  a  contrarrevolução  na  América  Latina.” (Iamamoto, 2024, p. 23).

O legado e a herança do Movimento de Reconceituação são construção do futuro, mais que do passado!

É tempo de celebrar!

Viva Marilda Villela Iamamoto!

Referências

CFESS. Serviço Social: Memória e resistência contra a Ditadura – depoimentos. Brasília : CFESS, 2017. Disponível em: https://www.cfess.org.br/arquivos/Livro-MemoriaseResistenciasContraDitadura.pdf. Acesso em: 12 maio 2025.

IAMAMOTO, M. V. Serviço Social na História: resistência às desigualdades sociais e respeito à Diversidade. Em Pauta: teoria social e realidade contemporânea, Rio de Janeiro, n. 56, v. 22, p. 20 – 33,  set/dez, 2024. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/revistaempauta/article/view/86520/51311. Acesso em: 12 maio 2025.

_____.  Conferência: cinqüenta anos do Serviço Social brasileiro. Libertas, Juiz de Fora, v.8, n.2, p.24-46, jul-dez, 2008. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/libertas/article/view/18166/9418. Acesso em: 12 maio 2025.

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