A assistente social e doutora em Serviço Social Elizângela Cardoso de Araújo Silva, que é indígena Pankararu, explica que “pintar o rosto e vestir-se de penas, expressou uma imagem restrita, desvirtuada e preconceituosa, que também teve o objetivo de apagar as marcas do genocídio indígena e das lutas de resistência que esses povos desenvolveram, e que mantém até os dias atuais, contra as atrocidades e violências de que são vítimas. Por isso é importante ressignificar a figura do ‘índio’, carregada de simbologia, pois quem não se veste, se pinta e vive como os antepassados, seguindo o padrão estético informado pelos colonizadores, não seria ‘índio’. E isso resolve, convenientemente,muita coisa do ponto de vista da sociabilidade burguesa”.
Pensar em povos indígenas implica considerar a diversidade cultural, o direito à terra e ao território, os direitos sociais e a participação na política, e, sobretudo, implica mostrar à sociedade a memória viva e presente de modos de vida e de valores que o capitalismo nega cotidianamente e insiste em atirar ao esquecimento. É o que defende Maria das Graças e Silva, professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisadora da questão ambiental e do Serviço Social que atualmente coordena pesquisa sobre crise hídrica e povos indígenas.
“A sociedade brasileira precisa superar urgentemente a visão integracionista, folclórica etnocida que predominou no seu imaginário. Há povos reais, com vidas reais, resistindo e seguindo em defesa do direito à própria existência. Neste dia 19 podemos e devemos repensar a história brasileira e o conhecimento das causas indígenas: a defesa do direito à diferença, direito à terra e ao território, direito à autonomia e à vida livre de violência”.
Formação
A professora ressalta que a formação em Serviço Social tem muito a contribuir com a luta dos povos indígenas no Brasil, mas alerta que a categoria também tem muito a avançar e aprender com esses povos. O Serviço Social tem uma base crítica e interventiva importante e as demandas são variadas: a saúde indígena, a política de Assistência Social, habitação, saneamento básico, saúde mental, entre outras.
“As competências profissionais representam aproximações importantes com a luta dos povos indígenas. Entre elas estão o potencial da dimensão investigativa de pesquisa acadêmica sobre a relação entre questão ambiental e conflitos agrários que atacam a existência dos povos indígenas; o apoio e subsídios para a formação política; o fortalecimento dos movimentos, como as assessorias prestadas às organizações da sociedade civil; a formação ética para atuação e oferta de serviços de qualidade aos povos indígenas; as denúncias e as lutas contra as práticas de violência institucional e práticas assimilacionistas, racistas e etnocidas em diversos contextos onde vivem os povos indígenas (rural, urbano, aldeias e assentamentos); e as cotas étnico-raciais. Tudo isso deve formar um conjunto de preocupações a perpassarem a formação profissional , tanto em nível de graduação quanto da pós-graduação em Serviço Social”, explicou.
Genocídio
Essa união de esforços contribui para fazer avançar as demandas dos povos indígenas que ainda hoje sofrem ataques violentos motivados pela ganância do sistema capitalista que utiliza todas as opressões possíveis para azeitar a sua máquina e maximizar os lucros. O genocídio do povo Yanomami, no norte do Brasil, possibilitado pela omissão complacente do Governo Bolsonaro, talvez seja o exemplo recente mais chocante e flagrante dessa operação promovida pelo capital com as bênçãos do estado burguês.
Elizângela Cardoso de Araújo Silva, assistente social e indígena Pankararu, lembra que os povos indígenas são sistemática e permanentemente atacados por meio da expropriação de suas terras, pela degradação ambiental – que coloca em risco a sua saúde e existência –, pela violência física e simbólica, entre muitas outras formas.
“É preciso afirmar que se trata de um projeto de destruição, um genocídio étnico, por vezes disfarçado de democracia e de progresso. O governo protofascista de Bolsonaro implementou de modo radical este projeto, com a construção de um arco de alianças que envolve desde a mineração ilegal até o tráfico de madeira e de diversos recursos naturais, por meio da legitimação de toda sorte de violência contra os povos indígenas”.
Elizângela enfatiza que a barbárie praticada contra o povo Yanomami é um escárnio e deveria envergonhar e causar arrepios a todas e todos. “Neste sentido, a luta é de todos os povos indígenas, que vêm respondendo aos ataques com força e radicalidade. Mas é também de todas/os as/os exploradas/os e oprimidas/os pelo sistema do capital: dos movimentos sociais, das instituições e organizações democráticas, dos partidos políticos comprometidos com a luta anticapitalista. Enfim, a luta antirracista é ponto crucial da luta por uma sociedade livre de toda violência e socialmente emancipada”, concluiu.
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