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86% das/os estudantes de mestrado e doutorado em Serviço Social relatam sintomas de ansiedade

2/04/20 às 00:00
Em tempos de cortes de Bolsa de Estudo, a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) reafirma sua importância na produção do conhecimento no país, particularmente na área das Ciências Humanas e Sociais e no acesso e permanência de estudantes de pós-graduação. O resultado da pesquisa nacional sobre as/os discentes dos Programas de Pós-Graduação (mestrado e doutorado) revela informações importantes que impactam diretamente no perfil das/os estudantes na área.

Um dos destaques se relaciona à saúde mental das/os entrevistadas/os, pois 86,7% das/os participantes declararam ter tido sintomas de ansiedade durante a pós-graduação, seguidos por 66,5% que relataram desânimo e falta de vontade de fazer as atividades, além de 11,4% que tiveram pensamentos suicidas. Além disso, 20% declaram que têm ou tiveram uma psicopatologia diagnosticada (depressão e ansiedade foram as mais citadas). Mesmo diante da magnitude do problema, constatou-se que as universidades e os Programas não têm promovido ações de enfrentamento a ele, uma vez que 95,3% das/os ouvidas/os disseram não terem recebido nenhum tipo de apoio ou atendimento.

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Entre os entrevistados, 52% relacionaram os sintomas de piora da saúde mental ao fato de estarem cursando o mestrado ou doutorado. Entres esses, 73,1% atribuem o adoecimento à “pressão na escrita e/ou produção acadêmica”, 58,2% ao “nível de exigência e prazos das atividades da pós-graduação” e 53,9% às “dificuldades de conciliar trabalho e estudo”.

Permanência

Outro dado que chama a atenção se refere ao desafio da permanência no curso. A situação financeira das/os discentes é a mais lembrada, com destaque para a escassez de bolsas e o baixo valor destes auxílios que exigem dedicação exclusiva (clique e veja a nota da ABEPSS contra o corte de bolsas de Mestrado e Doutorado). Além disso, a conciliação entre estudos e trabalho e o pouco reconhecimento aos estudantes-trabalhadores também foi um dos pontos lembrados, assim como a exigência de alta produtividade e prazos sem contrapartidas que viabilizem a participação em eventos e apoiem a produção. Também chama a atenção a falta de suporte à mulher que é pesquisadora e mãe e situações de racismo institucional dentro dos Programas.

As relações de poder também foram lembradas pelos participantes da pesquisa. Há dificuldades na relação entre orientandos e orientadores. A violência simbólica dos docentes aparece em situações como o desinteresse pelo ensino combinado com uma perspectiva crítica à/ao estudante; o desrespeito aos níveis de acúmulo de cada pessoa; a dificuldade de aceitação de algumas temáticas de pesquisa, como, por exemplo, o racismo; e a indisponibilidade para orientações.

Perfil

A pesquisa demonstra, ainda, aspectos do perfil das/os discentes dos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil: 83% são mulheres; 19,4% se declararam pretos ou quilombolas, 0,2% indígenas e os pardos são 32,5%; 79,9% são heterossexuais e 20,1% são homossexuais, bissexuais e outros; 1/3 dos entrevistados têm renda familiar de até 3 salários mínimos e 49% de até 5 salários; 59% é oriunda/o de escola pública; 72,% tiveram que trabalhar durante a graduação; 69% tiveram que exercer atividade remunerada na pós-graduação; 76% das mães das/os estudantes ouvidas/os não têm curso superior, número que salta para 82% quando a pergunta é sobre o pai.

A pesquisa foi realizada em âmbito nacional e contou com a participação de 536 discentes de pós-graduação de todas as regiões do Brasil de instituições públicas e privadas, representando uma amostra de pouco mais de 30% do quantitativo do quadro discente da Pós-Graduação na área do Serviço Social em 2018, ano em que a pesquisa foi realizada por um Grupo de Trabalho que reuniu as pesquisadoras Camila Caroline, Gabriele Ponciano, Jéssica Adriele e Jéssica Cleophas.

Utilização

De acordo com uma das representantes discentes da pós-graduação na ABEPSS, Gracielle Feitosa, os dados da pesquisa já estão auxiliando a Associação na compreensão da realidade e demandas discentes da pós-graduação em Serviço Social. A ABEPSS se esforça para estimular o debate e construir estratégias de defesa da qualidade da formação na pós-graduação diante de um cenário negativo de contrarreforma na educação brasileira. A pesquisa sobre as/os discentes é mais um desses esforços que a Associação tem feito.

“Estamos vivenciando um momento de ataques e desmontes do ensino superior público, gratuito e de qualidade em favor dos interesses financeiros, haja vista a proposta do Programa Future-se para as universidades. Os dados fortalecem e orientam a nossa luta por um projeto de formação profissional, de acesso e permanência na educação superior pública, gratuita e de qualidade”, explicou Gracielle.

Gracielle lembrou, ainda, que as informações já foram utilizadas nas oficinas regionais da ABEPSS realizadas 2019, em especial nas das regiões Sul II e Nordeste nas quais houve ênfase nas questões de saúde mental e assédio moral durante a vida acadêmica. A mesma temática foi tratada no Seminário de Pós-Graduação na Oficina Nacional da ABEPSS, realizada em dezembro do mesmo ano em Campinas, São Paulo.

“Voltaremos a abordar a questão em uma das mesas no Seminário Nacional de Pós-Graduação na Área de Serviço Social previsto para ocorrer ainda este ano, na PUC de São Paulo. É a ABEPSS, em conjunto com a Capes e com apoio da PUC-SP, que está realizando o evento e vamos ampliar a discussão para o adoecimento discente e docente, e os impactos das condições de trabalho na produção do conhecimento. Os dados ainda vão nos auxiliar em diversos outros debates e ações. E é importante lembrar que a pesquisa foi realizada graças ao esforço e coragem das pesquisadoras Camila Caroline, Gabriele Ponciano, Jéssica Adriele e Jéssica Cleophas. Quero registar meu agradecimento e o da ABEPSS a elas”, disse Gracielle.

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