A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), Diretoria Nacional e Regional Sul I, o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) 11ª Região, o Comitê Paranaense de Assistentes Sociais no Combate ao Racismo – CRESS/PR e a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) Região VI, manifestam repúdio aos ataques direcionados ao povo Avá Guarani da Comunidade Yvy Okaju em Guaíra no oeste do Paraná.
Segundo a Brasil de Fato, na primeira semana do ano, “ao menos seis homens não indígenas incendiaram mais uma casa, balearam um rapaz no braço com um rifle calibre .22 e fizeram no mínimo outros três disparos dentro da aldeia.” Além do rapaz baleado, mais oito indígenas da comunidade foram atingidos com balas ou chumbo no corpo, dentre os quais crianças e jovens.
As ofensivas aos Avá Guarani ocorrem desde que os indígenas iniciaram um processo de retomada desse território que já foi identificado e delimitado pela Funai em 2018. Além da lentidão do processo de demarcação, reforçado pela tramitação da Lei sobre o Marco Temporal, este território está sobreposto por 165 fazendas, o que evidencia os interesses dos ruralistas em torno das terras. Esses interesses têm sido disseminados pela mídia para incitar o ódio, a violência e perseguições contra a comunidade e suas lideranças.
Vale lembrar que este território é considerado sagrado e ancestral para os Avá Guarani que começaram a ser expulsos após acordo firmado durante a ditadura militar entre o governo brasileiro e o governo paraguaio, antes mesmo da construção da hidrelétrica de Itaipu. Essa construção intensificou esse processo de expulsão com o alagamento de aldeias que foram sendo ocupadas pela água.
As populações indígenas no Brasil, historicamente, são alvo de diversas formas de violências: genocídios, etnocídios e memoricídios (Baez, 2010). Apesar disso, em resistência, essas populações criam estratégias de sobrevivência e preservação da cultura que identifica cada um dos seus como membros de uma grande família, assim como da natureza, com a qual se relacionam como parte de suas trajetórias de vida e cultura.
Com o avanço das necessidades de reprodução do capital e suas formas de metabolismo social que avançam violentamente sobre a natureza e os povos que dela e nela vivem, comunidades inteiras são expulsas de seus territórios, resultando em mortes, apagamento histórico e cultural. Sob essas violências, expandem-se grandes latifúndios e se fortalece o agronegócio. Essa realidade evidencia que não basta que a Força Nacional do governo federal se proponha a acompanhar a situação; é preciso que enquanto Estado, as ações de proteção aos povos originários sejam reforçadas e efetivas.
Em tempos de desastres ambientais e tantas catástrofes derivadas da destruição da natureza em decorrência do avanço feroz do capital, os povos indígenas têm sido guardiões das florestas, da natureza, e empreendido inúmeras resistências em defesa da vida e de seus direitos.
Assim, reafirmamos o compromisso do Serviço Social brasileiro na construção de resistências junto aos povos originários, pois juntos, buscamos construir e preservar o “futuro de uma sociabilidade justa e igualitária, em que todas as pessoas tenham acesso a um ambiente ecologicamente equilibrado” (Carta de Belo Horizonte, 2024).
Demarcação de Terras já!
Não ao Marco Temporal!
Pelo fim da violência contra os povos indígenas!
Regional Sul I- ABEPSS
Diretoria Nacional- ABEPSS
CRESS PR 11ª Região
Comitê Paranaense de Assistentes Sociais no Combate ao Racismo – CRESS/PR
ENESSO Região VI
Referências
BÁEZ, Fernando. A história da destruição cultural da América Latina e Caribe: da conquista à globalização. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
Brasil de Fato. Gabriel Moncau. Durante virada do ano, novo ataque deixa indígena | Direitos Humanos. 02 de janeiro de 2025.
Carta de Belo Horizonte. Participantes do 51º Encontro Nacional do Conjunto CFESS-CRESS. Belo Horizonte (MG), 8 de setembro de 2024. Disponível em: CartaDeBH-51EN-Final.pdf.
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