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Nota do GTP Trabalho, Questão Social e Serviço Social referente ao mês de maio de 2024

31/05/24 às 00:00

 
As formas de pressão por melhores condições de trabalho são realizadas desde  1.152 a.c. Com o advento da Revolução Industrial, o movimento foi disseminado como um fenômeno que combinou rodada de negociações salariais, condições de trabalho e protestos contra governos e patrões. Assim, os rumos da história indicaram que o  primeiro ato, neste sentido, foi o dos tipógrafos dos jornais “Diário do Rio de Janeiro”,  “Correio Mercantil” e “Jornal do Comércio” que reivindicavam aumento salarial, em  1858, seguido da primeira Greve das Operárias de Pawtucket, em Rhode Island (Estados  Unidos), em 1824, dando origem a criação do Dia do Trabalho pela Internacional  Socialista, em 1889. [1]

A vida adentro à brasileira segue com a experiência do “perigo negro” do Levante  dos Malês de 1835, a qual revela uma vivência original da sociedade escravista no Brasil  e nas Américas sobre o controle senhorial-escravocrata e a luta dos ganhadores que ao  constituírem-se trabalhadores “livres”, com todas as restrições da Abolição, tem nos seus  descendentes mais jovens a formação do mundo do trabalho operário-industrial. Este  cenário compõe a sociedade escravocrata urbana do século XIX. A sua forma foi refletida  nas “cidades-esconderijos” dos escravos imbuída de resistência capaz de lutar por  profunda repressão com ginga, cultura e candomblé (como fenômeno de resistência).  Tudo isso, com a maestria de construir alianças políticas quando necessárias.

Essa conjuntura evidencia as mediações do trabalho e do ser social, imbricando  relações de superexploração da força de trabalho e racismo estrutural no capitalismo  dependente brasileiro, o que só pode ser compreendida, por meio dos fundamentos  ontológicos do ser social. Portanto, da tradição marxista para uma leitura da totalidade  concreta do real na luta da classe trabalhadora, tendo a greve, as mobilizações e as  manifestações coletivas de resistência no centro das rupturas arcaicas.

O mês de maio, classicamente, a partir de então, configura a mobilização de  trabalhadores de diferentes áreas que diante das insatisfações lutam contra o aumento do custo de vida e do rígido controle do governo. A greve, portanto, como um instrumento  de luta e resistências, recheada de mortes, mas, também, de conquistas, pode chegar ao  conjunto da classe trabalhadora, conforme a adesão, para reivindicar a construção de um  outro projeto societário. Permeado pela crise estrutural do capital, a conjuntura atual vem  conduzindo a democracia e os direitos sociais para o limiar de risco, contando, com o  abate às conquistas históricas das classes populares aliada a um conservadorismo  reacionário sem precedentes. Reconhecendo os limites da democracia, torna-se imperioso, enfrentar os ataques do capital protagonizados pelos setores reacionários da  sociedade brasileira. 

Para tanto, o GTP Trabalho, Questão Social e Serviço Social destaca a práxis  social de Marx e o marxismo como aspectos, absolutamente, necessários para a  contemporaneidade diante das relações de gênero, raça e classe relevantes na luta de  classes. Com isso, reafirma-se que o método materialista histórico-dialético de análise  da realidade responde às complexidades e às novas configurações do trabalho na sua  vinculação com a questão social. Reivindica-se, por conseguinte, este método para  compreender como a luta de classes é mediada pela racialização e sexismo, no mundo  contemporâneo. Isto porque o processo de construção da luta de classes é consolidado  pela mercantilização da força de trabalho brasileira herdeira das relações escravistas no  contexto da superpopulação relativa na complexificação da divisão social, sexual e racial  do trabalho. [2]

A discussão sobre o trabalho e as formas de exploração e opressão  contemporâneas implicam, portanto, olhar as determinações históricas e estruturais  erigidas pelo processo de acumulação primitiva, do colonialismo e da escravidão, cujas  contradições são recriadas pelo capitalismo dependente. Desse modo, entende-se a  organização do trabalho assalariado e a força de trabalho como um processo determinado  por aquelas contradições que criaram mecanismos políticos, econômicos e ideológicos de  hierarquização e rebaixamento da força de trabalho indígena e negra, ocultando o seu  papel como estruturantes na formação socioeconômica do Brasil. 

O acúmulo do GTP “Trabalho, Questão Social e Serviço Social” parte do  pressuposto que o processo capitalista de produção não produz, apenas, mercadorias e  mais-valia, mas, também, produz e reproduz a própria relação de capital, portanto, a  reprodução da totalidade da sociedade.

Constata-se que as articulações das forças políticas em movimento no mundo a  fora, na construção de alternativas para o conjunto da sociedade diante à superexploração  da força de trabalho em defesa da radicalização da democracia configuram parte da  expressão imprescindível da socialização da riqueza produzida. A realidade da vida  adentro nos convoca a seguir negociando com o governo, sempre! 

Sob este entendimento, a exigência não é outra, senão aglutinar esforços na  direção de uma luta unitária contra o ajuste fiscal e em defesa da democracia, dos direitos  sociais, da reforma agrária, da democratização dos meios de comunicação, da taxação das  grandes fortunas através de uma reforma tributária progressiva, entre outras medidas de  que imputem compromisso de melhoria da classe trabalhadora.  

No momento atual da greve dos/as professores/as, dos/as técnicos/as em educação  e dos/as estudantes, vemos o seu estágio de maior intensidade de mobilizações nas  universidades e institutos federais ao rejeitar o acordo e prosseguir com a greve nacional  fazendo frente ao reajuste zero à categoria no ano de 2024. Evidencia-se a recomposição  dos orçamentos das instituições federais afogadas no orçamento despencado, o que aponta  para o horizonte de dialogar com a população. Chega! Recomposição orçamentária já!

GTP Trabalho, Questão Social e Serviço Social
 


[1] MANZONI, Leandro. 11 greves que mudaram os rumos da história. Forbes, 28 de abril de 2017.  Disponível em: https://forbes.com.br/colunas/2017/04/11-greves-que-mudaram-os-rumos-da-historia/.  Acesso em: 25 de maio de 2024 

[2] Esta discussão compõe parte do material acumulado pelo GTP Trabalho, Questão Social e Serviço  Social para as “Questões norteadoras para discussão da Mesa Temática da Oficina Nacional da Abepss  Intitulada “As relações étnico-raciais na formação em Serviço Social: Contribuições dos Grupos Temáticos de Pesquisa (GTPS) da Abepss”, a ser realizada dia 27.10.2023 durante a Oficina Nacional da ABEPSS em  2023.​

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