A defesa da democracia e dos direitos, o enfrentamento à violência recrudescida contra nós, mulheres, são as grandes pautas em torno das quais vem se construindo a unidade das forças políticas feministas neste 8M.
Na resistência pelos direitos, ganha centralidade a luta em defesa da previdência social, direito seriamente ameaçado pela proposta de contrarreforma do governo. Nós, mulheres, estamos entre os setores da classe trabalhadora mais fortemente impactados pela proposta de contrarreforma. Somos a maioria da classe trabalhadora em situação precária, com mais baixos rendimentos e maiores jornadas de trabalho ao longo da vida. Isso porque acumulamos o trabalho remunerado à sobrecarga com o trabalho doméstico não remunerado.
Nossa situação no mercado de trabalho se reproduz em desigualdade no acesso à previdência social. Somos a maioria em situação de desproteção social; nos aposentamos mais por idade do que por tempo de contribuição e a maior parte dos benefícios permanece no patamar de um até dois salários mínimos. Somos a ampla maioria das beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada – BPC e, portanto, profundamente afetadas pela possibilidade de redução do valor do benefício a R$ 400,00, proposta pelo atual Governo. A contrarreforma proposta, que iguala idade entre homens e mulheres trabalhadores rurais para fins de acesso à previdência, amplia até a morte o tempo necessário para aposentadoria. O carro-chefe da proposta, o sistema de capitalização, jogará milhões de mulheres na mais absoluta desproteção e insegurança.
Não é não! Essa mensagem forte do carnaval da resistência de 2019, seguirá ecoando fortemente neste 8 de março. Diremos não à toda forma de violência contra nós, mulheres. Pela violência, o patriarcado tenta calar nossa recusa. Nossa recusa a relacionamentos opressivos, nossa recusa à submissão às regras sociais desse sistema, nossa recusa a que meninas vistam rosa por regra. A luta pelo fim da violência e a denúncia dos feminicídios que crescem em várias partes do país serão uma das pautas prioritárias neste dia. Na avaliação de muitos setores do movimento feminista, a misoginia sedimentada e acionada pelas forças políticas conservadoras têm levado ao recrudescimento da violência sexista, expressa nos feminicídios, na violência sexual, nos estupros corretivos contra lésbicas, nas expressões cotidianas de transfobia, na violência racista contra mulheres negras e na violência contra ativistas. Por isto, a luta contra toda forma de violência será prioridade neste 8 de março.
Em várias partes da América Latina, o movimento feminista une forças para fazer frente ao processo em curso de recolonização da região, marcada por uma associação entre ultraneoliberalismo e fundamentalismo religioso. O atual momento da acumulação capitalista, marcado pela expropriação e superexploração do trabalho, avança contra quaisquer limites, inclusive os dados pelas limitadas democracias na região. A atual conjuntura evidenciada como exploração e dominação capitalista se reproduz de maneira articulada com a exploração-dominação patriarcal, racista e colonial. Nesse momento, é urgente a construção, pela Esquerda, de estratégias e formas de luta antissistêmicas, que enfrentem as desigualdades produzidas pela imbricação das relações sociais de sexo, de raça e de classe. Como diria Julieta Kirkwood, feminista chilena, não há democracia no país, sem democracia em casa.
No Brasil, a mulheres estarão nas ruas em defesa do direito de luta e auto-organização, também ameaçados pela Medida Provisória – MP 870, que abre o flanco para a criminalização das lutas e, pelo ambiente de criminalização, violência contra militantes. A denúncia da prisão política de Lula coloca em evidência o estado de exceção que vigora no país. A denúncia da criminalização e da ameaça contra aquelas que lutam se fará presente neste 8 de março, que em todo o país trará o nome de Marielle Franco como sua chamada. Marielle foi brutalmente assassinada em 14 de março de 2018 e seu assassinato segue impune. Por justiça e memória, lutaremos!
Graças às manifestações massivas do #EleNão, as mulheres levaram a eleição de 2018 para o segundo turno. Neste 8 de março, o desafio é, com ousadia e força de organização, realizar uma grande ação contra o governo eleito, suas políticas conservadoras, fundamentalistas, familistas e privatistas.
Que este 8 de março nos instigue a sair da perplexidade e a seguir organizando a resistência e a força necessária para defender nossas vidas, nossos direitos e construir um novo momento histórico. Porque o novo, o novo sempre vem!
A ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social) convida você a se juntar a nós! Como membro, você terá a oportunidade de contribuir para o fortalecimento do ensino e da pesquisa em serviço social no Brasil.
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