A cidade de São Sebastião, no litoral Paulista, foi palco de uma verdadeira tragédia ambiental, suplantando o já anunciado quadro de insegurança que se instala a cada verão, ano após ano e que se agrava com as mudanças climáticas: são 65 mortes, além de 1.109 desalojados e 1.172 desabrigados. A Vila do Sahy (antiga Vila Baiana, devido a forte presença de nordestinos), foi constituída entre as décadas de 1980 e 1990, pelos trabalhadores empregados na construção da Rio-Santos e, depois, na edificação dos condomínios e da infraestrutura local. Estes foram empurrados para as encostas dos morros pela forte especulação imobiliária dos terrenos planos e litorâneos.
Evidencia-se, assim, que se as mudanças climáticas aumentam os riscos, ao tornar extremos e mais frequentes os fenômenos naturais já conhecidos, é a organização social instituída pelo capital e seu processo de acelerada urbanização que aprofunda a desigualdade social, os responsáveis pelos desastres: a ausência de política habitacional, a falta de saneamento básico e de infraestrutura que valorize a mobilidade urbana, com investimentos em transportes coletivos, além da recusa em desenvolver políticas de gestão territorial que inibam a especulação imobiliária, constituem fatores essenciais na produção dos dramas humanos que estamos vivenciando. Em outras palavras, os desastres, tidos como naturais ou mesmo fatalidades são, em verdade, crimes de natureza humanitária, parte de um projeto societário cujo fim último é a acumulação de capitais, o favorecimento dos interesses econômicos, em detrimento da população que trabalha e produz a riqueza social.
Esse processo de forte segregação socioespacial,manifesta um profundo racismo e um forte preconceito de classe, reconhecido, inclusive pelo atual prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB) ao afirmar que moradores da praia de Maresias,“incluindo empresários e famosos” impediram a construção de 400 casas populares na praia, de modo a preservar os “seus” espaços, livres da população negra, pobre e não branca.
Destaque-se, ainda, a ausência de um plano de prevenção e alerta frente aos riscos ambientais, que contemple desde o estabelecimento de metas de transferência da população em áreas de risco, o monitoramento permanente dessas áreas, informações sistemáticas à população sobre as variações meteorológicas, até os alertas e transferências emergenciais em caso de aprofundamento dos riscos. Vale lembrar que as autoridades só informaram à população quando a tragédia já se fazia sentir, o que demonstra o descaso com a população negra, pobre e periférica.
A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e o Grupo Temático de Pesquisa sobre questão Agrária, Urbana e Ambiental (GTP/ABEPSS), prestam solidariedade à vítimas e se irmanam a todos/as em luta pelo direito à cidade para todos(as), livre do racismo e da xenofobia, enfrentando os governos de plantão que, a serviço do lucro de poucos, aprofunda os riscos socioambientais. Lutar, enfim, para transformar os espaços urbanos de morte em espaços para viver, conviver e desfrutar justa e igualitariamente dos frutos do trabalho coletivo.
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e Grupo Temático
de Pesquisa sobre questão Agrária, Urbana e Ambiental (GTP/ABEPSS).
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