É um prazer ter você aqui! Digite abaixo seu termo de busca

Desafios de assistentes sociais aumentam diante do descontrole da pandemia no Brasil

29/05/21 às 00:00
O Brasil já ultrapassou a marca de 459 mil mortos em decorrência da pandemia da Covid-19, resultado de uma gestão genocida da crise sanitária promovida por um Governo Federal que deixa brasileiras e brasileiros morrerem, em especial os mais vulneráveis. Mas as mortes, a explosão no numero de casos e o colapso da rede pública e privada de saúde em inúmeros estados também é resultado do aprofundamento das políticas ultraneoliberais e das contrarreformas que, na prática, extinguem direitos e inviabilizam serviços públicos de qualidade para a população brasileira. Essa conjuntura, que ganha ares de tragédia brasileira com repercussão planetária, desafia ainda mais assistentes sociais de todo o país.

Para Euzamar Ribeiro, assistente social, representante dos/as supervisores/as de campo da regional Centro Oeste da ABEPSS e que trabalha no Instituto Federal de Goiás (IFG/Campus Cidade de Goiás-GO), o cenário não é animador, mas há possibilidade de resistências e enfrentamentos. No âmbito do Serviço Social, a construção de novos caminhos passa pela luta coletiva na defesa dos direitos sociais e políticas sociais, pela defesa intransigente dos direitos humanos e do Sistema Único de Saúde (SUS), além do incentivo à pesquisa e extensão. E ela ressalta que as lutas antirracistas e LGBTQIA+, o apoio aos movimentos sociais, e a atuação junto às comunidades tradicionais e aos povos originários sempre devem estar na pauta, assim como o fortalecimento do CFESS/CRESS/ABEPSS, e a defesa da democracia, da educação pública, laica, presencial e de qualidade como um espaço plural e democrático.

“Vivemos um contexto adverso com a pandemia, mas os problemas, hoje acentuados, o antecedem. Um exemplo é a crise estrutural do capital liberal e conservador em que se perdem direitos e se escancaram todas as formas de desigualdade da sociedade brasileira. Estamos em 58º no ranking de vacinação mundial e isso é o retrato de uma política liberal conservadora que retira do Estado sua responsabilidade com a coisa pública. Nesse sentido, o governo Bolsonaro aprofunda e contribui com o não acesso à saúde pública em tempos de pandemia”, disse Euzamar, que também atua na Política de Assistência Estudantil no IFG.

Cenário

Neste cenário muito desfavorável, Euzamar Ribeiro lembra que assistentes sociais precisam estar comprometidas/os em minimizar as desigualdades sociais resultantes da crise do capital. Elas foram escancaradas na pandemia e, no Ensino, se evidenciam em inúmeros fatores, como: dificuldades de acesso e permanência de estudantes nas Instituições de ensino; não acesso democrático ao uso de internet e de equipamentos de informática (computadores, notebook, tablete, dentre outros); precarização das condições de vida de estudantes e seus familiares; impacto do desemprego na permanência de estudantes; trancamento de matrículas; evasão; da baixa frequência na participação das aulas no Ensino Remoto Emergencial (ERE); recursos insuficientes para atender demandas de bolsas/auxílios de estudantes na assistência estudantil; dificuldade de articulação do movimento estudantil e das/os trabalhadoras/es da educação no ERE; acumulo de trabalho no formato remoto; falta de assistência às/aos estudantes e a seus grupos familiares em suas necessidades pontuais; uso de recursos próprios para a realização das atividades laborais; e ausência de formação permanente; entre outros.

“Estou em trabalho remoto desde o dia 16 de maio de 2020. A partir desta data a supervisão de estudantes do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Goiás – Regional Goiás foi suspensa, pois defendemos o estágio como espaço de formação e garantia do mesmo de forma presencial nos moldes da orientação da Política de Estágio. Com isso, temos um desafio relacionado à perda no campo de mediação teórico-prática no estágio supervisionado. Além disso, há acumulo de trabalho no formato remoto docente, possível fechamento de instituições de ensino por falta de investimento, uso de recursos próprios para a realização das atividades laborais no ERE, queda de internet constante em áreas distantes, dentre outros”, explicou.

Euzamar Ribeiro lembra, ainda, dos desafios que todos esses fatores, trazidos à tona pela pandemia, colocam para a pesquisa. “Ensino, pesquisa e extensão são indissociáveis e fazem parte do fazer profissional. Porém estudantes, docentes e demais trabalhadores/as da educação precisaram se reinventar. Assim, mesmo com a pandemia e desafios, a pesquisa se mantém ativa, atenta à realidade concreta e à conjuntura como forma de resistência e enfrentamento dessa realidade que vivemos”.

Mazelas

A pandemia tem acirrado contradições e aprofundado as mazelas decorrentes da crise estrutural do capital, que tem buscado saídas privatizando direitos sociais, em um processo de ampliação das áreas passíveis de exercer a acumulação. A contenção de investimentos em políticas públicas incide diretamente na redução de postos e na precarização do trabalho de assistentes sociais. É o que argumenta Suéllen Bezerra Alves Keller, assistente Social do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS), na Comarca de Viamão/RS e supervisora de estágio pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para ela, o Serviço Social é composto por quadros que possuem um acurado senso crítico em relação ao capitalismo, que não se observa em outras profissões.

“O desmonte vem se acirrando desde o golpe de 2016, gerando um cenário que se consolida com a política de morte do (des)governo Bolsonaro. Ao quadro neoliberal, soma-se o recrudescimento da ofensiva conservadora, ao qual o Serviço Social não está imune. Ainda assim, o fortalecimento do Projeto Ético-Político é uma tarefa a ser renovada a cada desafio histórico imposto pela conjuntura, tendo o Serviço Social pessoas aguerridas e combativas, que defendem de peito aberto a construção de uma nova sociabilidade de caráter socialista”, disse.

Sendo o Serviço Social uma profissão eminentemente interventiva, a atuação na área necessita do conhecimento da realidade social nos territórios. Suéllen Bezerra Alves Keller lembra que esse fator é um desafio para a identificação das atividades que podem ser executadas de forma remota, pois muitas delas exigem a interação social entre assistente social e população usuária dos serviços prestados, nos diversos espaços sócio-ocupacionais. Nas atribuições que não podem ser executadas de forma remota, o desafio consiste em exigir das instituições empregadoras meios de trabalho condignos, que garantam a segurança sanitária, bem como as condições éticas e técnicas para o exercício profissional.

“Em meu espaço de trabalho, no Judiciário Estadual do Rio Grande do Sul, uma das estratégias para alçar tais garantias foi a aproximação com o sindicato da categoria, mediante a criação do Grupo de Trabalho de Assistentes Sociais do SINDJUS (GTASS), constituído por uma comissão de seis assistentes sociais, da qual faço parte. O GTASS apresentou recomendações à instituição empregadora acerca das particularidades do nosso trabalho no contexto pandêmico, resultando na vedação das visitas domiciliares no período e legitimando a autonomia profissional. São conquistas para a preservação da vida e da saúde que revelam a força da construção coletiva em um contexto adverso”, explicou Suéllen.

Estágio

O estágio supervisionado constitui um dos pilares da formação em Serviço Social, exigindo a reflexão coletiva sobre as contradições inerentes a esse processo na pandemia. As/Os estudantes anseiam estar inseridas/os nos campos, vivenciando a experiência da atuação profissional, sendo que o estágio remunerado é, por vezes, a estratégia de sobrevivência alcançada pelas/os estudantes. Entretanto, a pandemia prejudicou essa engrenagem como explica Suéllen Bezerra Alves Keller, que também é representante dos/as Supervisores/as de Estágio da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), na Regional Sul I.

“Na pandemia são prejudicadas as possibilidades de efetiva supervisão e em muitos campos profissionais as/os estudantes são relegadas/os à própria sorte, sem equipamentos de proteção que garantam minimamente sua segurança. Por inação do Governo Federal, sem acesso a vacinação. E há problemas também relacionados ao ensino e pesquisa. O Serviço Social passou por um severo processo de esmorecimento na formação, à medida que houve a consolidação do Ensino a Distância (EAD). A modalidade EAD retrata uma lógica educacional mercantilizada, gerando precarização tanto às/aos trabalhadoras/es docentes, como às/aos alunas/os que não possuem formação adequada. A pandemia, todavia, demandou que mesmos as aulas presenciais fossem realizadas de forma virtual, trazendo contradições particulares. No limite, os problemas são transmutados, sendo necessário não perder do horizonte a luta por uma educação pública, gratuita, laica e socialmente referenciada”, defendeu Suéllen.

Filie-se à ABEPSS

A ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social) convida você a se juntar a nós! Como membro, você terá a oportunidade de contribuir para o fortalecimento do ensino e da pesquisa em serviço social no Brasil.

clique aqui