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Capitalismo avança contra os territórios e modos de vida indígena

9/08/22 às 00:00
“O Brasil é território indígena! Essa é a força da voz indígena em resistência e em retomada por todo Brasil”. É dessa forma que Elizângela Cardoso de Araújo Silva, indígena Pankararu e assistente social, abre a entrevista ao ser perguntada sobre como é possível contar a história do Brasil a partir da perspectiva dos povos originários. No Dia Internacional dos Povos Indígenas (9 de agosto), ela lembra que a violência, os conflitos, a exploração e a opressão contra os povos indígenas são faces da questão social, expressões da contradição capital/trabalho, diante da ofensiva do capitalismo que avança contra os territórios e modos de vida indígena.

“Nossos mais velhos, as memórias coletivas dos ancestrais, do caminho, dos rompimentos, os diversos registros existentes nos territórios indígenas, contam muito da nossa história. Porém, como cantam os jovens do grupo Guarani Kaiowá BroMc’s, ‘você não consegue me olhar e quando me olha não consegue me ver’. A vida indígena no Brasil é de enfrentar cotidianamente o preconceito, o racismo, os desprezos. É não ter a chance de falar, de ser ouvido, de ocupar e viver nos territórios de origem. Os detentores dos saberes, os defensores dos direitos humanos dos povos indígenas são alvos constantes de ataques, de perseguições. Ao defender o povo, são tratados como agressivos, bravos, descontrolados. Sim, temos que levantar e segurar a voz diante desse processo histórico e continuado de violência contra povos indígenas”, ressaltou.

Elizângela, que também é doutora em Serviço Social, coordenadora de Estudos e Projetos do Coletivo Indígena Aroeira e coordenadora de pesquisa da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), salienta que a formação e atuação em Serviço social compreendem múltiplas competências e habilidades que devem ser usadas para atuar em defesa dos direitos humanos e sociais dos povos indígenas. Isso precisa ocorrer “no campo da pesquisa, da construção do conhecimento com povos indígenas, não admitindo relações de opressão, subalternização e exploração dos povos; e nos diversos espaços sócio-ocupacionais, atuando com respeito às tradições, costumes, cultura e direito ao território, buscando conhecer sistemas normativos relacionados à gestão do território, entnomapeamentos, etnodiagósticos, trabalho em rede e atuação em defesa da democracia, e participação direta dos povos nas decisões que afetam suas vidas”.

Apagamento

Jibran Yopopem Patte, que é assistente social e integrante da Articulação Brasileira de Serviço Social e Povos Indígenas e da Rede de Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas e Quilombolas, concorda, mas ressalta que, para que isso ocorra, as temáticas indígenas precisam ser contempladas nas grades curriculares e nos debates do Serviço Social.

“É preciso reconhecer, primeiramente, a grandeza cultural dos povos indígena do nosso país. A partir disso, é preciso utilizar bibliografias que contenham o ponto vista de professores e pesquisadores indígenas. O Serviço Social pode contribuir em todos os níveis, seja na graduação, seja na pós-graduação, e também na atuação profissional. As entidades, como o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss) precisam garantir as condições para inclusão da temática nas grades curriculares e também nos debates da espera do Serviço Social, desconstruindo, assim, o apagamento dos povos indígena da história”, defendeu.

Luta de classes

A assistente social Elizângela Cardoso de Araújo Silva lembra que a luta de classes é histórica e é onde acontece o enfrentamento contra a lógica predatória do capital, ainda mais intensificada no Governo Bolsonaro. “A ofensiva do grande capital, materializada no agronegócio e nas investidas do patronato rural, do latifúndio e dos megaprojetos, deixa grandes impactos ambientais destrutivos de ecossistemas e de grupos étnicos. Os povos indígenas no Brasil são cada vez mais afetados, atacados e destruídos pela lógica do capital, defendida e protegida por estruturas do campo legislativo e do executivo desse governo anti-indígena e por seus apoiadores, impondo um cenário repleto de retrocessos para os povos indígenas”.

Elizângela adverte que as lutas sociais no âmbito dos movimentos da classe trabalhadora devem considerar a diversidade e importância da defesa do direito à identidade, à expressão, dinâmica étnica de vida dos povos indígenas e o direito de organização social, bem como, suas decisões, visão de mundo e formas de relação com a sociedade nacional. “Através da luta de classe, a consciência da nossa condição histórica, marcada por investidas destrutivas contra os territórios originários, e a força e a potência da unidade social da população em sua diversidade de trabalhadoras/es com vidas exploradas e oprimidas, vencerão esse contexto sombrio que estamos vivendo”.

Para Jibran Yopopem Patte, os povos indígenas podem dar uma grande contribuição para a superação do momento que o Brasil vive. “Os povos indígenas possuem sabedoria ancestral no que se refere ao desenvolvimento sustentável. Sendo assim, podem contribuir para a construção de uma sociedade que tenha qualidade de vida mediante a preservação dos biomas brasileiros”, concluiu.

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