A partir da década de 60, movimentos sociais em diversas partes do mundo iniciaram mais efetivamente a luta pelo direito de ser diferente e de ser reconhecido. Para a população LGBTQIA+, um dos marcos, que deu origem à data de 28 de junho, foi a revolta de Stonewall Inn, em Nova York, nos EUA, em 1969. A polícia perseguia o público frequentador do bar chamado Stonewall Inn, majoritariamente pessoas LGBTQIA+, fazendo batidas e efetuando prisões em uma época em que a homossexualidade era crime em todos os estados dos EUA. A população LGBTIQA+ da cidade reagiu e houve uma revolta com manifestações no dia 28 que fez a pauta da comunidade ganhar repercussão. Logo o movimento de Nova York começou a influenciar o início de marchas em outras cidades que acontecem até hoje: as Paradas LGBTQIA+.
No Brasil, os coletivos que dariam visibilidade a essas pautas se organizaram mais tardiamente, a partir da década de 70, muito em razão da ditadura militar que oprimia o país enquanto as marchas já se espalhavam pelo mundo. Toda essa efervescência dos movimentos colocava como questão central a diversidade. É o que explica Silvana Mara de Morais dos Santos, professora da graduação e da pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e integrante do GTP de Ética e Direitos Humanos e Serviço Social da ABEPSS.
“Os estudos e pesquisas demonstram que, quando falamos de diversidade, falamos de LGBTQIA+, mulheres, população negra e indígena e muitas outras. O aprofundamento teórico mostra que esses grupos são expressões da diversidade. Isso também implica, por exemplo, o fator geracional – infância, adolescência, velhice – que é outra expressão da diversidade. Trabalhamos na perspectiva crítica mais ampla da diversidade humana. O indivíduo é simultaneamente histórico, social e diverso. A diversidade é própria da individualidade. É a forma de cada indivíduo estar e se apropriar da própria existência. O que os movimentos fizeram e fazem é trazer a diversidade para o campo político e mostrar como na realidade brasileira, e de diversos outros países, muitas expressões da diversidade são violadas e negadas”, explicou.
Capitalismo
A partir daí, relata a professora, se percebe que há incompatibilidades entre o capitalismo e a diversidade humana desde a origem do sistema, quando populações negras e indígenas foram subjugadas ou exterminadas. Hoje, o capitalismo atende às questões de identidade para fins mercantis e não para de fato reconhecer que os indivíduos são diversos e merecedores de respeito. O olhar é sempre numa perspectiva de como lucrar com a expressão da diversidade.
“Essa captura tende a homogeneizar, destruir culturas, como fez com a população indígena e negra. Para nós, falar de diversidade humana não é abrir mão de um projeto societário crítico ao capitalismo. Seres diversos não podem ser pensados em uma sociedade de exploração e opressão como a nossa. É preciso problematizar a sociedade que nega a diversidade. A diversidade não é um processo meramente individual. Há determinações sociais relacionadas com a forma como a sociedade está organizada”, defende.
Ensino
Na formação em Serviço Social, tem ocorrido um empenho para fazer com que o conjunto das disciplinas considerem a diversidade humana nas propostas curriculares. O objetivo é entender as relações sociais que fundam essa sociabilidade. Através do fortalecimento dos GTPs, a ABEPSS trabalha na perspectiva de mostrar a importância das diversidades e dos processos de opressão e preconceito que as pessoas sofrem a depender da diversidade que apresentam.
“Há um esforço acadêmico para que, quando falamos dos usuários, falemos das expressões de classe e de diversidades dos indivíduos. Temos avanços na criação de disciplinas obrigatórias para o currículo que discutem relação racial, patriarcado, sexualidade e identidade de gênero. Todo esse debate que temos feito na profissão sobre ética, principalmente com as mudanças da década de 90 e o Código de Ética de 1993, refletem um compromisso em pensar a relação entre ética, direitos humanos e diversidade humana. O debate no campo da ética foi importante para trabalhar a diversidade no currículo”, explica a professora Silvana Mara.
Ela lembra, ainda, a importância da articulação com os movimentos sociais e do contato das/os estudantes com as agendas feministas, de livre identidade de gênero, antirracista e dos direitos da classe trabalhadora para afirmar um projeto societário para o Serviço Social que seja crítico ao capitalismo, e que defenda a diversidade humana.
A ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social) convida você a se juntar a nós! Como membro, você terá a oportunidade de contribuir para o fortalecimento do ensino e da pesquisa em serviço social no Brasil.
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