Essa é a perspectiva defendida por Mabel Rocha de Castro, assistente social da Mandata Coletiva Nossa Cara, na Câmara Municipal de Fortaleza, no Ceará. Segundo ela, para que as pessoas concebam a ideia de que é possível existir pessoas trans em locais de trabalhos que não sejam os que essas pessoas já ocupam, é preciso que a sociedade perceba que isso está acontecendo no seu dia a dia. “Como a sociedade vai vislumbrar a possibilidade de uma assistente social trans quando a maioria dessas pessoas só nos encontra em lugares subalternos e insalubres de trabalho?”.
Mabel Rocha de Castro explica que a sociedade tem que se deparar com corpos trans ocupando diversos lugares, na escola, na universidade, no hospital, na política e na vida. É preciso que, sobretudo pessoas cis, deem visibilidade, proponham, reflitam e potencializem espaços que garantam que essas histórias toquem outras vidas e histórias.
“A cada passo dado nessa luta rumo à cidadania e à dignidade precisamos multiplicar e fortalecer. Precisamos dar visibilidade para nossas vitórias, mesmo que sempre façamos alusão às nossas derrotas. Perdemos meninas trans todos os dias. A maioria de nós não consegue não ver a prostituição como sendo o caminho que se apresenta para nossa existência. Precisamos dar visibilidade para pessoas trans que assumem cargos de trabalhos e lugares de poder que inspirem e motivem outras pessoas trans. E não deixaremos de denunciar nossas mortes, nossas perdas e tudo o que nos atravessa”, frisou.
Transfobia
A transfobia no Brasil é atravessada pela raça, pela classe social, pelo território, entre outros fatores, como muitas outras opressões que estruturam o país. A branquitude, o patriarcado, o capitalismo e todas as forças estruturantes da sociedade desenham um modo de ser moldado na noção eurocêntrica, cisnormativa e patriarcal. Na medida em que pessoas trans avançam no acesso ao trabalho, os aspectos do racismo estruturante emergem. Sendo assim, travestis negras tendem a ter espaços de trabalho negados por serem negras, por exemplo.
“É inegável a afronta que o corpo trans executa dentro da formação arcaica e patriarcal construída sobre a noção de homem e mulher. A travestilidade é uma ação de liberdade que afeta a prisão e os prisioneiros da lógica patriarcal de sociabilidade. Causa fissuras no ‘CIStema’ e impõe, mesmo que sob ataques fascistas e conservadores, na agenda do cotidiano sinais da nossa existência. Quando vemos em periódicos da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e da Rede Trans (Rede Nacional de Pessoas Trans) levantamentos que apontam que as travestis e transexuais negras e pardas são as que mais morrem no Brasil, somos levadas a perceber o quanto de atravessamentos a transfobia nesse país pode ter”, disse Mabel Rocha de Castro.
Formação em Serviço Social
Travestis e Mulheres Trans são potenciais usuárias das políticas públicas operacionalizadas por assistentes sociais, uma vez que são vítimas da marginalização que é desenhada pelo Estado sob valores conservadores e liberais. É preciso ampliar o debate na formação em Serviço Social para que as/os futuras/os profissionais tenham mais instrumentos para atender e buscar a ampliação e a garantia dos direitos da população trans.
“Não há de ser nossa profissão a que vai materializar violências com o trato dessas/es usuárias/os. E homens trans também são tocados por essas políticas. A sala de aula é um lugar estratégico para pensar caminhos quanto a essa questão no nosso fazer profissional. Também é importante entendermos qual o quantitativo de pessoas trans que compõem nossa profissão, quanto dessa população acessa as políticas públicas. Estas são questões que podem basilar estudos e pesquisas sobre a ampliação e garantia dos direitos da população trans”, concluiu Mabel.
A ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social) convida você a se juntar a nós! Como membro, você terá a oportunidade de contribuir para o fortalecimento do ensino e da pesquisa em serviço social no Brasil.
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