O problema da fome e da insegurança alimentar da população brasileira já vinha se agravando nos últimos anos, mas a pandemia de Covid-19 expôs de vez a desigualdade social e o desmonte acelerado das políticas públicas no Brasil. É a partir dessa realidade que a 8ª Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) e o XI Abril Vermelho promovem os debates que estão acontecendo com encontros remotos em todo o país buscando respostas para a pergunta: “Por que o Brasil passa fome?”.
A relação entre a pandemia e o agronegócio, junto com os temas importantes que essas datas levantam, orientam os debates que acontecem em diversas universidades federais e estaduais e institutos federais pelo país abarcando elementos fundamentais da atual questão agrária. Além disso, o objetivo é dar visibilidade às resistências que envolvem populações camponesas, quilombolas, ribeirinhas e indígenas.
O ano de 2021 também marca o centenário de Paulo Freire, professor e filósofo reconhecido mundialmente por sua contribuição para a área da Educação e pelo método revolucionário de alfabetização que desenvolveu, com sucesso, junto com cortadores de cana-de-açúcar no Rio Grande do Norte. Também é o ano em que o Massacre de Eldorado dos Carajás, em que 21 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) foram brutalmente assassinados pela Polícia Militar do Pará, completa 25 anos.
A JURA e a formação em Serviço Social
A Jornada Universitária em defesa da Reforma Agrária (JURA) tem muita importância para a vida universitária no Brasil e para a formação profissional de Assistentes Sociais. Nasce em 2013, como produto de uma iniciativa do MST junto a um conjunto de professores universitários no âmbito nacional, que defendem a necessidade de pautar a democratização da estrutura agrária, social, econômica, política e educacional do país.
Desde os primeiros momentos, diversos cursos de Serviço Social, através dos seus Projetos de Pesquisa e Extensão, se empenham na organização deste importante evento aberto no mês de abril. Isso é feito com o reconhecimento de que os movimentos populares do campo são sujeitos coletivos de produção de conhecimento, e com a valorização de suas lutas de ação direta em defesa da qualidade da alimentação para as/os trabalhadoras/es.
Neste sentido, a ABEPSS entende ser importante valorizar a agricultura familiar e as populações do campo no contexto da pandemia de Covid-19. As lutas camponesas e das populações tradicionais pela Reforma Agrária e a demarcação de terras são fundamentais também para enfrentar a ofensiva do agronegócio e das iniciativas neoextrativistas que ameaçam a reprodução da vida. Suas iniciativas de auto-organização frente à crise sanitária são referências centrais para a formação profissional em Serviço Social.
A compressão das expressões da questão social, que nutre a atuação das/os assistentes sociais, recolhe leituras que nascem ao calor da consciência política e teórica produzida por esses movimentos, pautando temas urgentes como a relação entre a crise socioambiental, a produção de pandemias e o quadro generalizado de fome e empobrecimento que o Brasil vive na atualidade.
Interdisciplinar
O artigo “As Jornadas Universitárias de Reforma Agrária no Brasil em 2020: Paradigmas, Resistências e Espacialidades” compilou dados da edição de 2020 da JURA. De acordo com o estudo, 36 universidades federais e estaduais e institutos federais realizaram o evento, totalizando 34 jornadas concomitantes. O sudeste concentrou 41% das atividades, seguido do nordeste com 23%, centro-oeste com 15%, sul com 12%, e norte com 9%.
De acordo com uma das autoras do artigo, Gabriela Abrahão Masson, do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), e assistente social do Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais (IELACHS), as jornadas são cada vez mais interdisciplinares, envolvendo cursos de diversas áreas. Ela explicou que a articulação entre as instituições de ensino para a realização do evento está sendo aprofundada e que a participação dos movimentos dos povos indígenas está sendo incorporada a diversas JURAS, como já ocorreu na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grasso do Sul, em 2020.
Gabriela, que também é coordenadora do Fortalecendo a Agricultura Camponesa em Uberaba (FACU), e vice-líder do Núcleo de Estudos Territoriais e Agrários (NaTERRA), acrescentou que a metodologia da JURA está avançando e que a abrangência do evento está cada vez maior, alcançando mais localidades. A expectativa, segundo ela, é de que em 2021 a amplitude das jornadas aumente ainda mais. Os dados estão sendo coletados novamente pelo coletivo Dataluta, que é o Banco de Dados das Lutas pela Terra.
Além de Gabriela Abrahão Masson, são autoras do artigo que traz os dados da JURA de 2020: Isabelle Medeiros de Freitas, da Licenciatura em Geografia da Universidade Federal de Alfenas; Raquel Buitrón Vuelta, doutoranda em Administração e Políticas Públicas no IIFAP, Universidad Nacional de Córdoba (UNC), na Argentina, com doutorado Sanduíche na Universidade de Oregon, USA; e Lara Dalperio Buscioli, doutoranda em Geografia na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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